domingo, 29 de março de 2009

MORDE !...e assopra...


Ontem foi aniversário da Hannah e eu tenho que confessar:

SOU UM PAI COM CORAÇÃO MOLE !

Antes de mais nada, deixe-me abrir um parênteses: Hannah não gosta muito de dormir fora de casa sem a gente por perto. Não sei não, mas isso sempre me cheirou a chantagem. Tanto que, quando ela quer dormir na casa de algum coleguinha, vai na boa ! Na boa...
Pois bem, na última sexta-feira à noite fui com a Ana à festa de um amigo, e deixamos a Hannah com minha mãe, que sempre faz tudo pela minha filha. Demos várias recomendações, dissemos que ela iria dormir lá, e que não adiantava reclamar, ficou decidido e ponto final !
Quando encontrei a Ana, a Hannah já tinha ligado pra ela duas vezes, perguntando se iríamos pegá-la após a festa, o que foi prontamente negado. Ela teria que se acostumar a passar por essas situações, custe o que custasse.
Certa hora da festa, meu celular tocou, era a Hannah:

“PAI, TÔ COM O CORPO TODO DORMENTE...”

Eu tinha certeza plena de que era caô (como os jovens e espertos costumam dizer...), mas, na dúvida, falei com a Ana e rumamos pra casa da minha mãe, deixando a festa de lado. Que pena, estava ótima...
Durante o trajeto, sentenciei que a Hannah não escaparia não de uma, mas de VÁRIAS punições, já enfileiradas em minha mente, desde as mais tolas até a mais cruel: FICAR SEM IR ÀS AULAS DE TEATRO DURANTE UM MÊS! Isso, realmente, seria a morte ! Atualmente, o teatro tem sido a menina dos olhos de minha filha.
Chegamos rápido, pegamos a Hannah e fomos direto pro hospital, apesar dela dizer, com aquela voz de sonsa: “Sabe, já estou um pouco melh...”. “PRO HOSPITAL, RÁPIDO !”, eu ordenei. E pra lá fomos.
Quero abrir aqui outro parênteses: EU ODEIO HOSPITAL, DE TODAS AS FORMAS E EM TODAS AS SITUAÇÕES ! Não vou me alongar nessa parte, mas sempre achei a emergência um saco, o atendimento um martírio e a espera pela liberação uma tortura chinesa, com direito a fiapo de bambu debaixo da unha e tudo.
Mas, dessa vez, eu queria muito ir, pra mostrar pra Hannah que não era ela quem mandava nas situações, que somos nós, pai e mãe, que damos as cartas.
Fomos chamados à sala da médica, que examinou cada parte e ouviu cada som produzido por seu corpo. Como já era de esperar, não encontrou indício de doença ou sintoma algum que pudesse representar perigo à saúde de minha filha. Porém, para certificar-se de que tudo estava normal, pediu que a Hannah fizesse um hemograma rápido. Ele engoliu em seco, eu ri e falei no ouvido dela: “NÃO ESTAVA DOENTE ? VAI TER QUE TOMAR INJEÇÃO !”. E ela odeia injeção mais do que eu odeio música baiana ! Na hora da coleta de sangue, escândalo, gritaria, lágrimas, tudo misturado numa catarse infantil desnecessária, provocada por ela mesma.
No final, o diagnóstico já esperado: nada demais, quadro normal, sem indicação de tratamento. A médica não tinha muitas explicações a dar, coitada. Mas eu sentenciei:

“ATAQUE DE FRESCURA !”. Ana deu um sorriso “amarelo ovo” e fomos embora.

Durante o trajeto pra casa, continuei a tramar mais um sem-número de castigos, pois eu tinha que mostrar pra Hannah quem mandava, quem tinha que respeitar e ser respeitado.
Quando chegamos, falei pra ela ir pro quarto dormir. Fui pro computador fazer a lista de pragas egípcias a que ia submetê-la. Um tempo depois, a Srta. “Sem Vergonha na Cara” apareceu na porta e, de cabeça baixa, me entregou um pedaço de papel. Eu também pude ouvir, quase que de forma imperceptível, uma palavra: “desculpa...”. Antes de dormir, ela ainda apareceu de novo na porta e me deu um “Boa Noite” mais pra dentro do que pra fora, e saiu de cabeça baixa. Ela sabe direitinho como se comportar nessas ocasiões, a bandida.
Peguei o papel que ela havia me dado e vi que continha os desenhos e as frases da imagem acima. Não tirei os olhos do papel e, de repente, ele ficou molhado, mais molhado e outra vez molhado pelas lágrimas que caíam. E comecei a ouvir o som de meu corpo se partindo em pedaços, como se aquele papel tivesse tido o poder de me fazer ruir por dentro.
Pronto ! Eu deixei meu coração de manteiga falar mais alto e fui ao quarto da Hannah, mas ela já dormia a sono solto. Não resisti e deitei ao lado dela, abracei-a por alguns instantes e saí de mansinho, sem perturbar seu sono.
Realmente, é muito estranho o que essa menina pode fazer para me deixar sem fala ou capacidade de reação.
Voltei ao quarto do computador, desliguei o equipamento e fui dormir.
A lista de maldades ficou pra próxima pirraça...

Feliz Aniversário, Hannah.

Um comentário:

Karla disse...

Pô , Mathias ! Eu me derreti com esta estória...