sábado, 21 de março de 2009

Club Penguim

É um pouco difícil explicar para um adulto, mas enfim.

O Club Penguim, da Disney (http://www.clubpenguin.com), é uma comunidade. Não, favela não, uma comunidade no sentido internético da palavra. Não existe favela na Disney.

Os avatares são todos pingüins — que me perdoe a nova ortografia, trema é lindo — e caíram numa ilha gelada, uma espécie de second life Lost frost para crianças, totalmente baseado na estética Flash. Se sua filha for abduzida, restará pouca coisa a fazer.



A partir da primeira página, você escolhe ser arremassado para a ilha (ou clube) ou pode também mandar sua arte, baixar papéis de parede, colorir imagens, ler histórias em quadrinhos inéditas. Tudo é pingüim, mesmo a arte que as crianças mandam. Nunca vi tanto pingüim — e olha que eu conheci uma mulher colecionadora que tinha três mil peças na forma dessa ave.

Você pode entrar para sócio do clube (8,95 BRL por mês, que eu suponho serem reais), o que lhe trará indizíveis prazeres. Sócios podem simplesmente criar mais, explorar mais, brincar mais, acessar mais, comemorar mais. E há produtos do clube, de roupas a livros, jogos e brinquedos, e tudo pode se adquirido on line. Os pais dos pingüins, digo, das crianças tem uma seção própria, onde está muito bem descrita a política de segurança do sistema.

Para jogar, você precisa cadastrar sua filha. Antonia vai fazer 5 anos e já tem uma conta e senha. Uma humilhação. Uma vez logado, você pode optar por uma entre mais de 100 ilhas. Todas são iguais, mas recebem um número limitado de pinguins.

Tu cai numa praça.

A praça é gelada — tudo é gelado — mas você tem à sua disposição, logo de cara, um café, um dance club e uma loja de presentes. Há pingüins andando por toda parte, cada um com seu nome em cima, e se você ficar dando bobeira, eles surgem em cima de você. Antonia escolheu ser uma pingüim rosa, o que se mostrou uma péssima idéia, pois a cada três pingüins dois são rosa. Eu e ela andamos conversando sobre o assunto.

Antonia está dormindo; preciso ir ao café.

Comprei um computador novo, um monitor imenso e sensível ao toque, então, coloquei o Windows Explorer em sua maior extensão (tecla F11) e toquei na porta do café. Minha pingüim rosa compreendeu e foi na direção daquele antro. Está com pressa pois sou novo aqui. Já descobrimos, eu e a Antônia, como podemos andar, escrever para alguém que passa por ali, para pedir informações, sei lá. Numa dessas praças, Antonia conheceu um rapaz, um tal de rafa qualquer coisa, com quem ela, e eu, trocamos... idéias, digamos assim. O rapaz colocou uma coração na tela, e nós devolvemos outro. Eles jogaram bolinhas de neve um no outro, uma cena tocante. Além de jogar bolinhas de neve onde quisermos, podemos fazer uma série de outros movimentos, como acenar e dançar a dança da bundinha.

Acontece que uma outra pingüim ordinária passou e o tal de rafa foi atrás dela. Antonia então ficou com ciúmes, e sugeri colocarmos uma carinha triste. O Rafa, percebendo a gafe, tentou uma reaproximação, e eis que nos enviou um email dele. “Filha, o rafa tá pedindo desculpas”, eu leio. Antonia lança um sorriso — ao meu lado e em sua versão pingüim — e vai passear pela sala, tipo “vou pensar”. Tudo isso nas minhas barbas.

Mas agora que Antonia está dormindo, eu adentro o café.

Um clima rastafári domina o ar. Larissa89 me parece tão perdida e tão rosa quanto eu. Outros, os “códigos” nem adianta perguntar. Sabe-se logo que alguém é novo pois ainda não aparece o nome em cima, apenas um código frio com nervos de aço. Vitor Nescau, com sua boina de lado, e a americana Lelelocaloca, vestida de supereroína rosa (é assim que se escreve, “supereroína”? O Word não sabe...) parecem estar juntos. Penguimbal, cabelos punk verdes, óculos vermelhos e coberto por uma capa anos 40, parece esconder alguma coisa.

O que eles não sabem é que eu tenho minhas fontes. Pedro, da sala da Antonia, me disse que há um certo Sei-sei (sic) que está por cima da barriga da miséria do pedaço. Ninguém — “ninguém”, ele disse — é capaz de vencê-lo no jogo de carta. Por um motivo muito simples: Sei-sei, inexplicavelmente, vê as suas cartas. E tem mais: foi ele que criou tudo aquilo ali.

Estou no segundo andar do café, onde estão os livros que contam todo esse babado. Não posso continuar agora, pois as paredes têm ouvidos. Eu mando notícias, se puder.
Boa noite, e boa sorte.

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